VERDADES SEM ADOÇANTES!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Uma Filha Estragada Pelo Sistema

Vejam só um triste relato de uma pessoa que foi vítima de outra vítima do capitalismo, do materialismo, do dinheiro e do status. Confesso que refleti muito sobre nossa sociedade após ter recebido este texto em meu e-mail:



Desde criança meus pais sempre colocaram na minha cabeça que eu tinha que estudar muito, para arrumar um emprego descente e ser alguém na vida. Eu, como tinha nascido para a arte, sempre houve problemas em casa por conta disso. Arte e artista nunca foram bem vistos, sempre foram sinônimos de miséria e um futuro desgraçado.
Eu sempre quis ter um violão, mas isto sempre me fora negado. Os livros usados de filosofia que eu conseguia comprar em sebos, minha mãe mandava jogar fora. Filosofia era outra coisa para vagabundos e para pessoas com o futuro desgraçadamente comprometido.
Minha mãe só queria que eu estudasse as matérias da escola e tinha que tirar 10 em todas! Quando eu tirava 8, ela reclamava. Quando eu a questionava sobre suas notas na escola, ela dizia que não estava falando do seu passado e que só queria saber do meu futuro.
Para não ter discussões intermináveis na minha casa, eu me matava de estudar para tirar as melhores notas. Quando terminei o segundo grau, estudei igual a uma condenada para passar no vestibular. Não saia para baladas, não namorava (minha mãe não permitia), não me divertia, nem na rua eu colocava os pés. Passei no vestibular, depois entrei para a faculdade. Estudava, estudava e estudava, sempre para tirar as melhores notas e agradar minha mãe. Já a esta altura, quando eu comentei em casa sobre comprar um violão, minha mãe fez o maior escândalo do mundo: Dizia que não era possível que naquela altura em que eu estava prestes a me tornar gente, eu iria jogar tudo para o ar e entrar na vadiagem, na subversão, no mundo da música, dos artistas-passa-fome e desprezados pela sociedade. Não comprei o violão e passei a noite toda chorando. Não era justo eu viver para estudar e não ter um meio se quer de diversão.

Finalmente chegou o dia da formatura: Nunca tinha visto minha mãe tão feliz na minha vida; ligava para todos os parentes, amigas, vizinhos, mendigos da rua e etc.
Tirou infinitas fotos da minha formatura, a ponto de entupir dois cartões de 2GB memória de.

Arrumei um bom emprego, porém o trabalho era de muita responsabilidade, o que obviamente me consumia muita energia e me causava estresses. 12 horas de trabalho por dia. Eu ganhava muito bem, mas nada compensava a minha insatisfação, minha adolescência perdida para agradar minha mãe, a minha verdadeira vocação jogada no lixo em prol de um sistema capitalista maldito, por conta de um status desgraçado que só existia na cabeça da minha mãe e de mais um sem número de alienados. Minha mãe que sempre estava feliz com esta situação e principalmente com o dinheiro que entrava para a renda familiar todo fim de mês. Enquanto isso, eu chorava calada todas as noites sem que alguém soubesse.
Minha mãe reformou toda a casa, comprou móveis novos, até o safado do meu irmão vivia comprando acessórios para o carro dele. O dinheiro fazia a alegria de todo mundo, exceto a minha, mas quem se importava?
Chegava final de semana, eu estava exausta e dormia o dia inteiro e mesmo quando às vezes eu tinha um pouquinho de ânimo para sair, com quem eu iria sair? Cadê as amizades que eu nunca tive por conta de viver para os estudos? No trabalho era um querendo puxar o tapete do outro.
Fiquei depressiva, mas ninguém percebia, ou fingia que não percebia! Depois de dois anos nesta rotina de estresse e tristeza, eu desenvolvi uma gastrite nervosa, que com o tempo virou úlcera e posteriormente um câncer!

Perdi toda uma vida, por conta da ganância de uma mãe alienada pelo capitalismo, pelo status quo, assim como a grande maioria das pessoas o são.
Eu nunca pude fazer o que eu realmente quis fazer. Só estudei e trabalhei. Não fiz mais nada da vida. Daria tudo por ter tido uma banda, por ter freqüentado baladas, por ter experimentado drogas, por ter ficado com vários caras em uma só noite e uma infinidade de coisas que a maioria dos jovens fazem “por direito” e são recriminados por uma sociedade careta, fracassada e pseudo moralista.

Desenvolvi ódio por pais fracassados que depositam seus sonhos em seus filhos. Estou escrevendo aqui do hospital e nem quero ver a cara da minha mãe.

Que minha história sirva de exemplo para muitos jovens que se abdicam de seus sonhos que não dão muito dinheiro, para fazer os gostos dos pais e da sociedade. Estou aqui agora, com pouca chance de vida e com toda uma vida não vivida. Tudo por causa de um formato de vida demente que te obrigam a seguir e fazem você acreditar que é o único e verdadeiro.

Um comentário:

  1. Grande parte do estresse mundial é causado por isso mesmo. Gente estudando o que não gosta só pra dar orgulho aos pais.

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